O mito, o herói e as instituições
O mito, o herói e as instituições
2012 já coleciona pelo menos duas perdas fundamentais para a cidadania e a auto-estima nacional. Por um lado, perdemos semana passada Millôr Fernandes, crítico mordaz da sociedade e opositor ao regime militar através do jornal Pasquim. Uma espécie de herói moderno, sempre pronto a apontar o que via como errado ou não-ético, e principalmente com um humor inteligente e acessível, como na sua excelente frase sobre a bolsa-ditadura; “A luta armada não deu certo e eles agora pedem indenização? Então eles não estavam fazendo uma rebelião, mas um investimento”.
Por outro lado, acabamos de perder o mito Demóstenes Torres, o guardião moderno da ética e da transparência públicas, sempre pronto a apontar o que via como errado no Senado Federal. E que contava com a confiança de grande parte da opinião pública.
O que estes dois fatos nos dizem sobre o estado da cidadania no Brasil? Se não temos mais heróis nem mitos, o que sobra para a opinião pública, que a cada dia exige ética e moralidade na gestão da coisa pública? A resposta é simples e definitiva: temos as instituições. Em especial as instituições de Estado.
É uma questão de reputação, definida como “a expectativa de muitas pessoas durante uma quantidade razoável de tempo sobre a conduta da instituição”. Instituições não são feitas por um único homem. E por isso mesmo têm muito mais condições de manter elevada a auto-estima de um número sempre crescente de cidadãos conscientes e atuantes. Principalmente instituições como as de controle, de aprimoramento da gestão pública e de regulação.
Se caiu o mito e o herói se foi, resta-nos cair de vez a ficha de que não precisamos disso. Precisamos é criar e manter valorizadas instituições de Estado fortes, autônomas e independentes do jogo político demagógico. Nós, cidadãos eleitores e pagadores de impostos vamos provar definitivamente que ultrapassamos a fase do clientelismo, do coronelismo e do “jeitinho”.
E aproveitamos para terminar o nosso comentário de hoje com outra grande frase de Millôr: “Como são admiráveis as pessoas que a gente não conhece bem”.