Fugimos da realidade, esta tem sido nossa sina, pela nossa insistente preferência pelo transbordamento ficcional de nossas emoções, pela expansão da cordialidade sem a qual nossos antepassados não teriam se lançado às grandes navegações, e se entregue ao pecado rasgado bem abaixo da linha do Equador.
Enfim, pela ruptura dos valores morais da ordem cristã, desprezados sobretudo pelas nossas “elites” tão soberbas quanto omissas e ignorantes.
Para que recuperemos a democracia perdida e retomemos o curso de uma prosperidade decantada, penso que se faz necessário o exame de algumas premissas em torno das quais um manifesto para despertar a cidadania entorpecida poderia ter algum sucesso.
Aliás, lhes dou aqui três exemplos. Fernão Lara Mesquita continua pregando quase sozinho sobre suas quatro propostas de reforma política para destorcer o Brasil e recolocá-lo outra vez sob o império da lei e da democracia: o voto distrital, o recall, a lei de iniciativa popular, o referendo e a avaliação do eleitor sobre a atuação dos magistrados. Thomas Korontai, nosso líder federalista, vai aos EUA explicar por que vivemos numa farsa de federação, equivalente, inclusive, à farsa da democracia “relativa”, como se refere o apedeuta.
Felipe Gimenez, nosso procurador ativista da contagem pública de votos, continua pregando no deserto sobre o que é a verdadeira democracia, quando o cidadão eleitor, além de votar, tem o direito de participar na contagem pública de seu voto. Três cidadãos atuantes que acompanho de perto. Mas poderia listar aqui dezenas que acompanho esporadicamente, pois todos são o que chamo de verdadeiros agentes de cidadania preocupados com a alienação política cada vez maior que os poderosos impõem aos cidadãos de bem.
Enfrentar a mesa diretora do Senado, ocupada por senadeiros omissos e pusilânimes, com um manifesto assinado aí, sim, por milhões de brasileiros e brasileiras, despertaria na certa o ânimo de mais de trinta senadores que dizem estar do lado dos cidadãos. Se não conseguimos milhões nas ruas fisicamente para empurrar o Congresso contra os infiltrados no STF pelo PT, precisamos de pelos menos uma centúria de guardiões da república (Livro III da República, de Platão) com coragem cívica suficiente para ocupar a mesa diretora do Senado até que seus membros tomem uma atitude efetiva contra os abusos do STF e da esquerda infiltrada nas instituições.
O que poderá ser feito através de um manifesto cujas cem primeiras assinaturas, a partir de um milhão coletadas nas redes sociais, se comprometerão a pôr em prática a ocupação pacífica. A convite, inclusive, desses trinta senadores ditos de oposição a este governo ilegítimo e demente.
https://revistaoeste.com/brasil/como-fazer-os-cidadaos-voltarem-as-ruas/
(*) Jorge Maranhão é conselheiro consultivo do Instituto Liberal, mestre em filosofia pela UFRJ, e dirige o Instituto de Cultura de Cidadania A Voz do Cidadão. É autor de “Destorcer o Brasil: de sua cultura de torções, contorções e distorções barroquistas”, e acaba de lançar “Curupira, o enganador do mundo e os doze dragões da maldade”.
Email: jorge@avozdocidadao.com.br
]]>16/Jun/2023
Estava eu no meu canto cabisbaixo quando me chega a notícia de um livro recém-publicado por um empresário gaúcho que acompanho de vez em quando nas redes sociais.
Coisa rara nas terras de Curupira, que é como resolvi apelidar Pindorama na perspectiva de nosso arraigado barroquismo mental. Um ousado ensaio de filosofia de um não menos ousado empresário: de Roberto Rachewsky, “O grego, o frade e a heroína”.
Antes de qualquer crítica a questões filosóficas, que me sinto no dever ético de externar, deixo claro que a atitude do autor é sobejamente mais louvável e decisiva para o trágico momento em que se encontra o país do que eventuais percalços de pensamento. Afinal, um empresário que pensa o estado da cultura de seu país para além das situações vantajosas de mercado, não é comum por estas bandas, uma vez que a omissão por ignorância ou escusos interesses corporativos por alguma teta do estado é seguramente uma das razões de nosso impasse civilizatório.
Caído na tentação de enaltecer ao máximo a obra de sua heroína, a ensaísta e ficcionista russo-americana Ayn Rand, Rachewsky endossa sua linhagem filosófica como herdeira e soi-disante sucessora de pensadores do vulto de Aristóteles e São Tomás de Aquino. Afinal, não há como nenhum pensador moderno ou contemporâneo achar que escapou da tradição da filosofia clássica antiga, como já asseverou Whitehead: “toda a filosofia ocidental não passa de notas de pé de página da obra de Platão.”
Mas no que concerne a Aristóteles, a autora o leu na perspectiva de uma tradição iluminista que o opunha ao idealismo platônico em defesa de um empirismo realista. O que hoje é bastante discutível, sobretudo na sua tese sobre o egoísmo versus o altruísmo cristão, uma vez que uma nova interpretação, particularmente da Ética, quando não de toda a obra aristotélica, elabora o discernimento entre o vício de um egoísmo inferior que instrumentaliza o outro e a virtude de um egoísmo como a busca de seu próprio bem, sem a exclusão do outro.
E aqui, não quero crer que tenha sido apenas uma trouvaille quando a autora destaca o triplo A dos nomes de Aristóteles, Aquino e o seu próprio, Ayn Rand. Sem falar no excesso de autoestima, irmão siamês do egoísmo, que ela enaltecia exclusivamente como virtude, não seria uma infração mesma do princípio da mediania aristotélica, um mero preciosismo formalista em contradição com o seu próprio pensamento objetivista?
O fato é que nosso bravo Rachewsky dedica três vezes menos espaço no seu livro para Aristóteles e Aquino do que dedica à obra de sua heroína. Daí, o grego ficar mal compreendido, o frade subestimado e a heroína superestimada. E, mais uma vez, cai numa contradictio in terminis o nosso autor quando subintitula seu livro como “A revolução pacífica e civilizatória”. Ele, como eu, sabemos por conta dos três princípios da lógica aristotélica que na história não há a menor chance de revoluções serem pacíficas.
Por outro lado, por se dedicar com tanto afinco à divulgação do pensamento de Ayn Rand no Brasil, Roberto Rachewsky, mais do que ninguém, deve saber de nossa atávica resistência a qualquer coisa que de longe se pareça com a tradição racionalista que, para além do objetivismo, se espalhou por todo o Ocidente desde a proeza da descoberta da filosofia clássica pelos gregos há mais de vinte e cinco séculos. O que talvez não saiba é que, dentro do cavalo de Troia da “razão tupiniquim”, no auge do Renascimento europeu, trouxemos o vírus latino do barroquismo mental transbordado para além do campo das artes e das letras. E nele nos atolamos pelo menos nos três primeiros séculos de nossa formação cultural. E insisto: não estou aqui a falar do barroco artístico de Aleijadinho e mestre Athaíde, ou das letras sarcásticas de Gregório de Matos e das prédicas de Antonio Vieira. Mas de seu transbordamento barroquista em campos onde absolutamente não deveria prevalecer como a justiça, a política e a moral.
Não, caro Roberto, não há esta questão central do antagonismo entre as escolas platônica e aristotélica, na supremacia da consciência sobre a realidade ou vice-versa. Esta versão foi uma pirueta da retórica barroquista, engendrada no próprio ventre da Renascença e bem ao gosto e apego pelas antíteses, paradoxos, ambivalências e outras figuras de linguagem. Daí, a minha tese sobre o barroquismo como a sofística moderna. Sobretudo nas periféricas terras de Curupira.
Aliás, se você me permite uma sugestão, veja que desde a segunda metade do século passado, esta tem sido a proposta fundamental do erudito pensador Giovanni Reale, que defende o consenso e não o dissenso entre os dois filósofos seminais, com a teoria das doutrinas não-escritas de Platão e da recuperação dos textos exotéricos de Aristóteles.
Mas voltando ao seu livro, o que mais me impressionou é a sua fé, mesmo que seja a fé na razão. Apesar do iluminismo tardio a que você se refere, com o resgate das ideias liberais no Brasil a partir do século passado, ter sido na verdade inaugurado no século XIX durante o Segundo Império de nosso maior estadista D. Pedro II.
Seu relato pessoal sobre sua luta pela liberdade é um exemplo a ser seguido por qualquer empresário brasileiro que tenha um pingo de decência diante da farsa irresponsável de nossas elites ao se omitirem e permitirem a volta fraudulenta desse esquerdismo que, na sua versão petista, nada mais é do que a doença senil do barroquismo, se me permite a paródia com a afirmação de Lenin sobre o esquerdismo como doença infantil do comunismo. Pois, se o petismo é em si mesmo uma fraude, o repetismo da cultura barroquista que ora vivemos é pura farsa.
Só sei que temos falhado em nossas estratégias de argumentação que não nos une num manifesto convincente, liberais e conservadores de todos os matizes, contra a prometida e iminente ameaça repetista de nos transformar numa Brazuela. Quando nossas elites, sobretudo empresariais, são o verdadeiro repeteco dos bestializados, a que José Murilo de Carvalho se referia por ocasião do golpe da república positivista. Quando vemos se repetir na nossa cara sucessões de torções e retorções barroquistas, como esta nova metonímia de trocar uma alegada ameaça bolsonarista à democracia por uma ameaça concreta às liberdades civis e aos direitos fundamentais dos cidadãos. O mesmo recurso retórico da metonímia que trocou o ato tramitado em julgado da condenação do presidiário por um detalhe de circunstância processual. Por boçais sinistros que não sabem sintaxe elementar e trocam o sujeito como termo essencial da oração pelo termo acessório do adjunto adverbial de lugar.
Para além da ignorância, é ato orquestrado das esquerdas infiltrarem nas instituições políticas e jurídicas ditas burguesas o que há de pior na sociedade a fim de apodrecê-las por dentro. Vide a decadência de nossas atuais instituições culturais, acadêmicas, jurídicas, politicas, militares, religiosas, empresariais etc.
O que urge é fazer do limão da ditatoga que amadura vermelho uma limonada antes que o próprio Brasil apodreça de verde e amarelo. Mais do que livros e artigos, tenho defendido um manifesto aberto às corporações, associações, federações, sindicatos patronais e de profissionais liberais. Pois não basta defender seus interesses setoriais, por mais legítimos que sejam. Cedo ou tarde eles serão assacados pelo poder destrutivo das esquerdas que tomaram o poder por sua própria conivência ou erro de avaliação. Quando seu programa de trocar o capitalismo malvadão pelo socialismo envergonhado da social-democracia é tão claro quanto inviável como já por três vezes demonstrado em nossa história recente. A questão é a tentação totalitária em curso.
Urge que nossas elites compreendam de uma vez por todas que a direita é um discurso passivo essencialmente de defesa dos valores morais da tradição ocidental judaico-cristã. Sobretudo a defesa das liberdades, não apenas de mercado, mas as próprias liberdades civis. Enquanto a esquerda é sempre uma estratégia de ataque a esses mesmos valores, pois na retórica revolucionária sempre serão sacrificados os meios em benefício dos fins. E valores morais serão sempre uma besteira burguesa.
O equívoco de trocar a ética pela estética custará ainda muito, não só para essas mesmas elites, como para todo o país. Uma vez que não pode haver sucesso empresarial privado dentro de um contexto social fracassado de toda uma nação.
A maior evidência de nossa mentalidade barroquista é trocar conceitos racionais e argumentos lógicos por meras figuras de retórica barroquista como meios de apreensão da realidade. Dentro delas a deletéria figura da metáfora, sobretudo a metonímia, que sempre troca o essencial pelo acessório, o todo pela parte, o tema pela glosa, o fato pela versão, a apreensão do real pelo efeito ficcional, enfim, a justiça pelo processo.
Pois a mais diabólica esperteza barroco-esquerdista, comprometida sempre com a farsa e jamais com a verdade, é destruir o sistema jurídico para que possa tomar o poder, a despeito dessas “bobagens” da democracia eleitoral burguesa. E tomar o poder para destruir o sistema econômico e submeter os cidadãos à condição de vilões igualados pela pobreza e pela dependência das esmolas do estado totalitário.
É o que pregou Gramsci com a revolução cultural marxista que dispensa enfrentamentos físicos da metafórica “luta de classes”. É o que prega os adeptos da Escola de Frankfurt ao trocar o embate de capitalistas e rentistas burgueses contra trabalhadores e proletários pela luta identitária sexista, de gênero, de raça, e das mais esdrúxulas figuras do politicamente correto. Trocar a cena revolucionária imaginária para que seja eficaz o resultado da destruição de valores morais de toda uma tradição.
Parabéns pelo livro e, sobretudo, pela biografia, Roberto, que me fez lembrar da Canção do Tamoio.Mas temos que transformar nossos livros, discursos, artigos, propostas e demais lauréis, por mais brilhantes que sejam, numa iniciativa mais do que objetiva, realista, contra a demagogia dos milhares de petistas infiltrados nas instituições do estado há mais de três décadas. Pois todos sabemos que não foi pelos milhões de miseráveis “invisíveis” até o governo passado, mas sim pelos privilégios e boquinhas dos companheiros militantes.
Não é hora de conclamar milhões de patriotas outra vez às ruas. Temos de nos unir numa ampla frente anti-repetista para recrutar uma centena de ilustres cidadãos para ocupar a mesa diretora do Senado até que seus membros nos convençam de que não prevaricam e cumprem objetivamente com seu dever institucional de tramitar as ações de impeachments contra os abusos policialescos dos sinistros supremos e as propostas de reforma política e jurídica de que o país tanto precisa.
Com certeza estaremos juntos na assinatura desse manifesto.
]]>Jorge Maranhão
14/Set/2022
Não sei o que é pior, se a esquerdalha ensandecida ou os socialdemocratas ditos de centro, coniventes e omissos diante das esquerdas e seus desvarios! Portanto, paremos de nos enganar como o país dos curupiras de pés retorcidos que, de tanto enganarem os outros, acabam por enganar a si mesmos.
No Brasil, nunca houve oposição verdadeira entre as esquerdas veganas e carnívoras que devoravam os governos e desgovernos, aparelhando empresas e instituições desta incauta e infelicitada nação.
A verdadeira oposição entre a recente aliança de conservadores e liberais liderada pelo atual presidente e o rodízio das carcomidas esquerdas fingindo-se de oposição no teatro das tesouras nacional é a grande e verdadeira novidade de nossa cultura política barroquista, a verdadeira terceira via contra a curupiragem geral de nossa subcultura política.
Eis a causa desse mal-estar entre os participantes do grande e silencioso conluio de agentes mamadores das tetas do tesouro, desmamados pelo atual presidente. E nunca é demais listá-los:
Por isto é que já é corrente nas redes sociais a reflexão de que a polarização não é apenas político-eleitoral, mas político-cultural. Civilizacional até! Pois, se trata de definir de uma vez por todas o caráter nacional, o que a maioria quer ser em face do pior legado possível dos sucessivos mitos de vagabundagem, malandragem, engodo e engano de Macunaíma, Jeca Tatu e de Curupira, respectivamente.
E para refletir sobre a ironia barroquista de nossa subcultura política ter chegado ao ápice de uma história em quadrinhos, com todas as farsas, ciladas e armadilhas dos bandidos contra o mocinho, temos até um Capitão para nos liderar nesta batalha.
Trata-se de uma inflexão cultural nunca vista na história brasileira, desde que fingiram trocar um imperador por um dito republicano. Deu no que deu: o imperador era mais republicano do que o próprio republicano de araque! Agora, acordamos para trocar os mitos e lendas da esperteza, da farsa e da fraude, pelo ideal da correção e disciplina! Um vagabundo por um Capitão! A maior inflexão do incipiente Iluminismo do Império brasileiro carcomido pelo cupim do ancestral e resiliente barroquismo colonial!
E tudo isto pelo orgulho ferido de lideranças empresariais, artistas globais, acadêmicos esquerdistas e jornalistas militantes, lagostíssimos sinistros e operadores da justiça parciais, mínima parcela da população, mas com o poder de repercutir seu puro preconceito social contra a larga maioria de cidadãos de fé apoiadores do Capitão, sem acesso à mídia e aos aparelhos do Estado ainda dominados pelos desmamados das tetas do tesouro nacional!
Todavia, duas insignes mulheres brasileiras, que não se omitem do debate público, mataram essa charada. Janaína Paschoal e Bruna Torlay. A primeira, professora de direito, atual deputada estadual por São Paulo, quando denuncia a manobra barroquista do sinistro Fachin na descondenação do Lularápio por não ver qualquer outro político com chances reais de se defrontar contra a popularidade do Capitão.
A segunda, professora de filosofia clássica, quando denuncia o orgulho ferido da social-democracia de punho-de-rendas, viciada nos recursos do tesouro nacional e nos recursos retóricos do “centro democrático”, a posar de isentona diante dos “extremos”, dona da “razão de Estado”, por não ter previsto, enfim, a sede de participação política dos conservadores em aliança com os liberais, todos recém-saídos do armário. E neste caso, também podemos listar quem são:
Desta feita, os dados estão lançados: mais do que uma eleição, estamos a escolher o próprio caráter nacional pelo qual queremos ser reconhecidos, a própria cultura dominante sob a qual queremos viver, se da razoabilidade e prudência iluministas na condução do interesse público ou da cultura barroquista de enganação e curupiragem geral que já estamos fartos de conhecer.
]]>O Congresso Nacional, como nossa maior farsa barroca, disfarça e não cumpre com sua missão essencial, qual seja a de controlar a administração da Justiça
São Paulo, 02 de Maio de 2022 às 15:53
Em que pese as severas críticas que tenho sobre a arquitetura de Brasília, pelo menos a localização central do prédio do Congresso Nacional, face o Executivo e o Judiciário, representa corretamente o peso entre eles. Pois os poderes soberanos pela legitimação do voto dos cidadãos são apenas o Executivo e o Legislativo, sendo o Judiciário um órgão essencial com poder indireto do presidente que indica os ministros e do Legislativo que os sabatina. Ou seja, um poder por deferência metafórica e não por fundamento de soberania, como definido no parágrafo único do Art. 1: “todo poder emana do povo.”
Só que, enfim, começa a cair a ficha do alegado sentido das duas conchas, côncava do Senado e convexa da Câmara. Para além da côncava estar a ouvir as aspirações das unidades da federação – se é que de fato ela existe ou é mera ficção barroquista – e a convexa as demandas plurais dos cidadãos, são a representação e o motor das duas fontes de poder, da soberania individual e comunitária dos cidadãos. Como elementos complementares e alados, ao lado do duplo edifício do Congresso, resulta no esboço plástico do maior de nossos dragões da maldade, diria o Curupira, símbolo maior de nossa farsa barroquista que a todos engana e descaminha.
Pois o Congresso Nacional, como nossa maior farsa barroca, disfarça e não cumpre com sua missão essencial, qual seja a de controlar a administração da Justiça, instrumento de seus abundantes recursos processuais, contra a associação criminosa com executivos corruptos, fontes de acesso a outro tipo de recursos, desta feita, os financeiros do tesouro nacional.
A nação inteira tem sido vítima do atraso de mentalidade, da reputação duvidosa e notória ignorância jurídica de alguns dos supremos togados. Sobretudo uma meia dúzia deles que padecem da mais aguda síndrome da retórica barroquista. Não no quesito da oratória da qual são até mesmo medíocres, mas no de seus torcidos, contorcidos e distorcidos raciocínios que os levam a uma total dissonância cognitiva na apreensão da realidade.
Como demonstro no meu recém-lançado livro “Curupira”, o barroquismo mental de três séculos nos fazendo ver e crer no imaginário assimétrico, obscuro, unívoco, pictórico e de forma aberta das artes barrocas acabou por nos levar a uma apreensão torcida, contorcida e distorcida da realidade. As artes e as letras barrocas, como sempre digo, são uma das máximas expressões da humanidade, mas quando transbordadas para outros campos da expressão cultural, como a moral, a justiça e a política, é um desastre, nosso grande impasse civilizatório.
Pois uma apreensão da realidade através de figuras retóricas como metáforas, metonímias, hipérboles, ironias e paradoxos resulta sempre em torções, contorções e distorções da realidade. Como se elas existissem na realidade objetiva e não fossem apenas figuras ou meios de expressão.
E a expressão máxima de nosso barroquismo mental é a enrolada, tortuosa, cara, nepotista, ineficiente, paradoxal, tardia, processualística e farsante Justiça nacional. Uma máquina de oprimir cidadãos indefesos por omissão ou ativismo em excesso e de procrastinar sentenças e favorecer poderosos.
Não é à toa que mais da metade dos supremos togados são objetos de pedidos de impeachment no Congresso, como: Gilmar Mendes, nosso garantista-mor em favor de políticos condenados por corrupção e em desfavor de centenas milhares de cidadãos presos arbitrariamente por pequenos crimes e sem o devido processo legal. Puro paradoxo.
Alexandre de Moraes, nosso inquisidor-mor, vítima, promotor, investigador, relator e juiz do conhecido “Inquérito do Fim do Mundo”. Uma hipérbole ambulante, descomedido e juris-imprudente.
Dias Toffoli, o defensor-mor do poder moderador do Esseteefe que não consta na Constituição Federal. E, portanto, pura ficção barroquista.
Fachin, defensor-mor do ex-presidiário ex-presidente, que criou a figura esdrúxula da descondenação judicial por confundir sentença condenatória com adereço processual. Como manda a boa retórica metonímica, troca o essencial pelo acessório.
Lewandovsky, inventor-mor da meia-pena do impeachment ou do supremo jeitinho de cassar o mandato mas poupar os direitos políticos de sua companheira ideológica. Mera ironia se não fosse também descabida hermenêutica.
E o iluminado Barroso, ativista-mor das pautas esquerdistas identitárias, da caixa-preta das urnas eletrônicas a abusador-mor de parlamentares com rabo-preso no Esseteefe.
A esses seis casos de extravagância jurídica e transbordamento retórico se juntam mais seis episódios de nossa tradição barroquista de torcer, retorcer, contorcer e distorcer a realidade, como narra Curupira e seus, não por acaso, doze dragões da maldade.
O paradoxo barroquista do ativismo judicial compulsivo de sinistros togados expressamente impedidos de fazer política partidária, além de fazer letra morta do art. 95 da Constituição, uma vez os compulsórios atributos de passividade, imparcialidade e insuspeição do ato judicatório.
A extravagância da existência de justiças ditas especializadas como as jabuticabas justiças trabalhista e eleitoral, fonte de empreguismo, opressão e abuso de tutela sobre os cidadãos.
A desrepresentação parlamentar que mais representa os interesses corporativos de seus representantes do que os dos cidadãos que finge barrocamente representar. Caso modelar de retórica da ironia de trocar o ser representado do cidadão eleitor pelo parecer ser representante de seus próprios interesses.
O conluio dantesco dos SS – Senadeiros do Senado e supremo sinistros que encenam a farsa de não tramitar processos de impeachment contra membros do Esseteefe, em troca de os mesmos não tramitarem denúncias de corrupção de senadeiros portadores de mandatos comprados.
A contabilidade criativa dos membros dos tribunais de faz-de-contas que faz vista grossa com pedaladas da execução orçamentária aprovadas pelos seus patrões no Congresso e práticas de criativas exportações de serviços por mega empreiteiras que só por acaso financiam campanhas eleitorais.
Tais são nossas doze quedas para o mais abissal fosso de nossa barroquista cultura política, onde os atores da alta magistratura nunca foram tão medíocres quantos os indicados pelos governos esquerdistas nas últimas décadas. O que nos tomará uma geração para substituí-los por ministros efetivamente ilibados e de notório saber jurídico.
Por isso a narrativa romanceada de Curupira, pronta para ser lançada também em língua inglesa, como Kurupira, para que o mundo saiba do que está realmente ocorrendo nesta sua periferia.
Não obstante grande parte dos países ocidentais também estejam a padecer da mesma pandemia do supervírus resiliente do barroquismo mental, quem sabe esta original interpretação do Brasil não acabe por ser útil também para a apreensão da realidade de outros países e culturas ditas mais civilizadas.
Porque o chiaroscuro barroco, como as espirais e volutas do côncavo-convexo, não nega a premissa de discernimento do preto e branco, da noite e dia ou do quente e frio. Uma vez que terceira via política, terceiro sexo ou terceira margem do rio, como o raro momento entre a alvorada e o pleno dia ou entre o crepúsculo e a plena noite, não são a regra celebrada pelo Barroco, mas a exceção que confirma a regra, uma vez que não seria sequer percebido o fenômeno sem as premissas conceituais que nos permite discernir a verdade, não apenas da mentira, mas sobretudo da meia-verdade.
Jorge Maranhão é mestre em filosofia pela UFRJ, dirige o Instituto de Cultura de Cidadania A Voz do Cidadão e autor de “Destorcer o Brasil. De sua cultura de torções, contorções e distorções barroquistas”. Acaba de lançar “Curupira, o enganador do mundo e os doze dragões da maldade”.
Email: jorge@avozdocidadao.com.br
O que começávamos a construir de autoestima nacional no final do império se perdeu com o positivismo démodé da república
Em 2022, por conta do bicentenário da nossa independência política mas também de nossa dependência cultural barroquista, temos a oportunidade única de superar nossa encruzilhada civilizatória. Ou seguimos o rumo iluminista da direita, recentemente iniciado, em sua missão de temperar a paixão esquerdista, ou permanecemos no já conhecido caminho dos soi-disant “progressistas”, da soberba e da enganação geral, que já vivemos desde os idos coloniais até as últimas décadas de governos socialistas e socialdemocratas.
Sincronicamente, a humanidade tem sido dividida entre a razão lógica dos economistas posta em voga nos últimos dois séculos e a persuasão retórica dos políticos que nos enganam desde há dois milênios. E, assim como diacronicamente o mundo é dividido entre períodos clássicos iluministas e períodos retóricos de sofistas, o Brasil, que não viveu o iluminismo inaugural da Renascença, tem estado imerso nos labirintos barroquistas desde há quatro séculos.
E porque, desta feita, a tese de meu livro “Destorcer o Brasil” lançada em 2018, de que vivemos no Brasil uma transmutação da resiliente cultura barroquista sobre nossa incipiente experiência iluminista, deve ser retomada em 2022, desta feita sob o gênero mais abrangente da ficção, dirigida para fora do país e veiculada em inglês?
Porque, no ano de nosso bicentenário de independência política, mas de forma alguma de independência cultural, precisamos parar para refletir nossos verdadeiros progressos e nossos persistentes impasses civilizatórios, pautas obrigatórias da mídia internacional, sempre sedenta do original, ainda mais vindo dos trópicos. Quando original se refere não apenas ao extraordinário como também ao que é de origem. Porque marcamos passo numa economia que não passa de um quinto da economia de nossos contemporâneos Estados Unidos, nas últimas décadas, quando já fomos uma economia maior do que a norte-americana na fase imperial? O que nos trava, bloqueia e inibe o recurso do consenso da tradição política de verdadeiras elites?
Participo de vários grupos de discussão de notáveis cidadãos em suas áreas de atuação profissional, mas quando se trata de sua capacidade de estabelecer um mínimo consenso, a coisa degringola em discordâncias ornamentais infindas e querelas sebastianas. Com quatro séculos de hegemonia barroquista sabemos como nenhum outro povo como trocar a lógica de apreensão da realidade pelos golpes sentimentais da retórica barroca. Torcer, retorcer, contorcer e distorcer o real pelo imaginário, a verdade pelo sofisma, a democracia concreta como criação de um povo pela demagogia do governo global imaginário dos organismos multilaterais, identidade nacional por estatuto multicultural, identidade de sexo por identidade de gênero, defesa da vida por condições de vida, justiça por processo e ativismo social, cidadania por vilania, e, sobretudo, cultura por entretenimento.
Retóricas não apenas genuinamente brasileiras como de vários países do ocidente, alguns deles até mesmo insuspeitos pela suas ditas tradições iluministas.
Como nossas elites têm se comportado na república com complexo de vira-lata, como dizia o saudoso Nelson Rodrigues, o que começávamos a construir de autoestima nacional no final do império se perdeu com o positivismo démodé da república. Mas temos como resgatar uma urgente coragem cívica exatamente agora em que o debate público tem sido o mais franco de nossa história. Quando, enfim, podemos cotejar os argumentos conservadores e liberais contra os socialistas e socialdemocratas de que temos sido intoxicados e experimentado nas últimas décadas. Uma oportunidade que não podemos perder.
E me perguntam o que fazer de concreto. Enquanto não juntarmos uma verdadeira elite que condicione apoio, influência e votos a políticos à adesão de uma agenda mínima de reformas institucionais, não mudaremos a hegemonia de uma resiliente mentalidade barroquista sobre nossa incipiente experiência iluminista. Listo aqui dez pontos que podem ser outros desde que haja um mínimo de consenso.
Estes são dez pontos que julgo haver um grande consenso nacional por parte de uma verdadeira elite que se proponha a detalhá-los visando uma carta-compromisso por parte de todos os cargos da disputa eleitoral de 2022. Para que realmente venhamos a superar nossa cultura barroquista de transbordamento retórico, para uma cultura de razoabilidade e bom senso iluminista, de deputados estaduais e federais, senadores, governadores e presidente desta, até agora, barroquista, boquirrota e farsante república.
Mestre em filosofia pela UFRJ, dirige o Instituto de Cultura de Cidadania A Voz do Cidadão e autor de “Destorcer o Brasil. De sua cultura de torções, contorções e distorções barroquistas”. Email: jorge@avozdocidadao.com.br
O que se cogita seria a intervenção pontual para a destituição de alguns membros do Supremo que flagrantemente afrontam a dignidade da cidadania brasileira
Por Jorge Maranhão06 de Setembro de 2021 às 16:40
| Mestre em filosofia pela UFRJ, dirige o Instituto de Cultura de Cidadania A Voz do Cidadão e autor de “Destorcer o Brasil. De sua cultura de torções, contorções e distorções barroquistas”. Email: jorge@avozdocidadao.com.br
As redes sociais têm clamado pela adoção do Artigo 142 da Constituição como se estivéssemos repetindo a intervenção militar de 64, quando a situação é totalmente diferente. Senão por inúmeras razões, pela essencial diferença entre o objeto da intervenção.
Em 64 tratou-se de uma intervenção no poder executivo visando a destituição do chefe de governo cuja vacância já havia sido declarada pelo próprio Congresso. Hoje, o que se cogita seria a intervenção pontual para a destituição de alguns membros do Supremo que flagrantemente afrontam a dignidade da cidadania brasileira e rasgam a Constituição que juraram defender. Destituição que caberia ao Senado, não fosse sua deliberada omissão por interesses os mais escusos.
Não reconhecer esta substancial diferença é erro de discernimento, discussão inútil, deblateração desrazoada, aspectos centrais de nossa cultura barroquista de enganação geral.
Como ocorre hoje em dia entre alguns juízes e eminentes cidadãos da área jurídica. Uma vez que não cabe a um verdadeiro juiz justificar seus juízos em face do debate político, mas simplesmente julgar. E nos autos! Não pode pretender julgar, por exemplo, entre o que considera forte e o fraco, seus credos ou posições políticas, mas apenas e exclusivamente julgar a conduta de um e de outro. E quando provocado, jamais de ofício.
Quando a maioria dos cidadãos se insurge contra sua Alta Corte, alguma coisa de muito errada deve estar ocorrendo com ela. Como por exemplo a sua intervenção descabida no processo político, exclusivo dos cidadãos eleitos e eleitores. É contra esta ilegítima intervenção da tirania judiciária que se justifica a intervenção soberana da cidadania.
Que tal pensar em sua atual composição, formada nas duas últimas décadas por governos esquerdistas que patrocinaram o maior escândalo de corrupção do planeta? Dos dez sinistros atuais do supremo, nove são da carreira da advocacia. O único juiz de carreira é oriundo da área do direito processual. Não penal ou constitucional que são a substância mesma do direito, pois os demais são direitos acessórios, não essenciais.
E aqui retorno à questão inicial de nossa dificuldade atávica com o discernimento entre essência e aparência, atributo inequívoco da prática política, jurídica e moral.
É indigno aceitar passivamente que um juiz possa fazer o que vier na sua cachola, mesmo que vivamos imersos na resiliente cultura barroquista onde prevalecem as falácias retóricas das hipérboles, paradoxos, ironias e metonímias! O que foi no passado um estilo de linguagem, o barroco das artes e das letras, hoje é pensamento e conduta! Não há como extirpar tamanho mal sem o direito à rebelião consagrado por John Locke desde o século XVII! Substância conceitual de que é feita a própria Constituição americana e a prática política, sobretudo do recall, não apenas de governantes e legisladores, mas também de juízes.
Recall como legítima intervenção da soberania dos cidadãos sobre tutela tirânica de governantes e juízes. Daí a urgência de destituir alguns membros do STF que estão aviltando o Artigo 5º da CF. Pois chegaram lá por vias políticas, sem o indispensável mérito, advogados públicos e privados, de instituições, corporações, partidos políticos, sindicatos e entidades de classe, como Gilmar, Toffoli, Fachin, Weber, Moraes, Lewandowski, Carmem Lúcia, Barroso, nenhum deles juízes de carreira. Senão, vejam-se os resultados de pesquisa recente sobre sua aprovação.
Pois vamos a cada qual e suas mais insensatas decisões:
Daí, minha crescente perplexidade pela quase ausência de efetivos juízes de carreira na atual composição da Corte, além de que:
Em suma: insistir em comparar o tosco Bolsonaro, equívoco de forma e estilo, com o pérfido Luladrão, equívoco de conteúdo e de caráter!
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