Editorial –

Impeachment: quem é pró e quem é contra – Por Jorge Maranhão

E mais uma pesquisa mostra de forma clara e cruel o abismo a que aos poucos o Brasil se afunda. A edição 2016 do Economist Intelligence Unit, braço de pesquisas da revista The Economist, traz um verdadeiro “tombo” brasileiro no ranking dos países mais democráticos do mundo.

Se já não vínhamos tendo um grande desempenho em nossa qualidade democrática, agora a coisa se complica ainda mais. Despencamos da 44ª para a 51ª posição, numa lista de mais de 160 países em todo o mundo. E isso, infelizmente, nos coloca na categoria de “democracia falha”. Segundo os pesquisadores, a crise política é um dos fatores-chave para nosso desempenho fraco. Não à toa, estamos na companhia da Argentina (50ª posição) país que também tem enfrentado tempos difíceis na política, mas que agora parece respirar novos ares com um novo presidente eleito.

De fato, vivemos tempos bastante turbulentos, e sem dúvida um dos componentes mais importantes é a crise gerada pela demora na questão dos pedidos de impeachment da presidente Dilma, seja através das famosas “pedaladas fiscais” apontadas pelo TCU, seja através do pedido de cancelamento da chapa Dilma/Temer, por uso de dinheiro ilegal na campanha à presidência.

A crise deriva diretamente da demora nessa decisão, seja ela qual for, pois torna o futuro incerto, engessando potenciais investimentos internos e externos, afastando investidores e desmobilizando a sociedade. Esta já deu inúmeras mostras da sua vontade, expressa em dezenas de pesquisas realizadas regularmente desde o final de 2014.

E não é só nas pesquisas que a sociedade tem expressado seu descontentamento com os rumos políticos e econômicos do país. Em diversos abaixo-assinados virtuais, o tema é o pedido de impeachment da presidente. E a adesão da sociedade corrobora o que as pesquisas também mostram. Claramente, a sociedade acredita que somente a saída da presidente poderia criar condições de estabilidade política para que sejam feitas as mudanças necessárias.

Senão, vejamos. No site de manifestos Change.org, a petição “Aprovem o Pedido de Impeachment da Presidente Dilma“, criada pela organização Movimento Pro Impeachment, já conta com mais de um milhão e quatrocentas mil assinaturas. Em outra petição de grande apoio popular, desta vez no site Avaaz, o manifesto “Impeachment da presidente Dilma” tem ainda mais assinaturas: quase dois milhões de adesões.

A comparação com manifestos similares, mas desta vez em apoio à permanência de Dilma na presidência, é de um contraste cruel. Na Change.org, a petição “Pela manutenção da legalidade democrática e o respeito ao voto em nosso país“, mal passou das cinco mil assinaturas. Na Avaaz, o manifesto de maior sucesso em apoio a Dilma mal passa das 30 mil assinaturas, embora já esteja há dois anos no ar.

Achar que a sociedade não está informada, e ainda funciona na base da mortadela, vale transporte e coisas do tipo, é não enxergar as mudanças profundas pelas quais estamos passando de alguns anos para cá. Especialmente depois do julgamento do mensalão e agora com o petrolão, representado pela Operação Lava Jato. O que há de mais podre, viciado, anacrônico e opaco em nossa classe política foi posto a nu, e os cidadãos estão cada vez mais atentos e atuantes.

Pois é justamente essa transparência no poder público, promovida por operações como a Lava Jato, que deve ser perseguida incessantemente pela sociedade. Em seu depoimento aqui para o programa Agentes de Cidadania da Voz do Cidadão, o economista Roberto Fendt reafirma o que se torna cada vez mais claro: o papel da sociedade em cobrar, pressionar e garantir essa transparência, em especial nos gastos públicos. Para ele, “o cidadão deve e pode acompanhar a execução das contas públicas, de tal maneira que ele saiba para onde está indo o dinheiro de seus tributos. Eu gostaria muito de ver no Brasil que todas as contas, não só da União, mas dos governos estaduais e municipais, pudessem ser postas disponíveis na internet, mensalmente, com relação ao resultado do mês anterior, dizendo para onde é que vai o nosso dinheiro“.

 

Para a The Economist, apenas 8,9% da população mundial vive sob o que eles chamam de “democracia completa”. Juntos, sociedade civil organizada, empresariado e políticos realmente compromissados com o bem comum, temos todas as condições de chegar lá.

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