Para fazer uma analise séria, sem histerismo e click bait dos primeiros 60 dias de governo Bolsonaro, é preciso separar o que é governo (administração pública) e o que é a visão construída. Em resumo, o que é identidade e o que é imagem.
Para isso, vou usar uma metáfora que considero bem apropriada, quem assistiu a série do NetFlix, Strangers Things, vai compreender ainda melhor.
Na série, existe o mundo real e o “up side down”, que é o mundo invertido. O mundo invertido é sombrio e habitado por monstros, nele, a realidade é totalmente alterada.
Pois bem, o governo Bolsonaro nesses primeiros dois meses vive dois mundos: o real, e o mundo invertido.
No mundo real, o governo apresentou um plano para os 100 primeiros dias de governo, apresentou um pacote anti-crime, um projeto para a nova previdência, eliminou ministérios, cortou 21 mil CC’s, cancelou licitações e contratos abusivos e está promovendo mecanismos de desburocratização, conceções e privatizações.
No mundo paralelo, há uma crise de governo por dia, a partir de declarações e pequenos atos de agentes do governo, que são transformados em “crises”, gerando uma histeria na extrema-imprensa e redes sociai. Uma frase do Mourão: crise de pensamento entre Bolsonaro e Mourão. Moro é mal interpretado ou comete um ato administrativo condenável (nomeação da Ilona Szabó), crise no Ministério da Justiça causa mal estar, e por ai vai.
Que crises são estas? Crise que não interfere uma vírgula no andamento do governo e da administração não é crise, é histeria disfarçada de crise. É o “up side down” da extrema-imprensa.
Chegamos ao limite do ex-presidente FHC afirmar que nunca viu um governo tão desastrado e um início tão desequilibrado sendo levado a sério.
Posto minha visão dos dois mundos que envolvem o governo, quero pontuar duas questões essenciais que ancoram esses 60 dias e são pontos críticos na análise.
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Sucessão presidencial: até hoje, desde a redemocratização, praticamente não houve sucessão presidencial, pois: o ministro FHC passou para o presidente FHC 1, que foi suscedido por FHC 2. Lula 1, recebeu de portas abertas do seu grande amigo FHC e, posteriormente entregou para Lula 2 e Dilma 1, que passou para Dilma 2 e teve continuidade com seu vice, Michel Temer. Ou seja, o atual governo Bolsonaro é o único que realmente é um novo governo, que vai totalmente de encontro aos governos passados.
Além disso, é uma equipe praticamente sem experiência no Planalto, pouquíssimos Ministros tiveram experiência em ministérios e apenas alguns em Secretarias estaduais (são apenas 6 ministros com voto).
Então, dentro de um quadro técnico, construído sem influência partidária ou de caciques, é normal que haja um período de adaptação, tanto administrativa quanto de conduta. O que justifica alguns exageros ou omissões.
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Composições ministerial e maioria parlamentar: o ministério levou em consideração critérios técnicos e experiência nas áreas de atuação, prova disto, é ter 16 ministros que não possuem um voto sequer.
É importante frisar sobre a “falta de articulação política” do governo. Primeiro dizer que é uma bobagem afirmar que não existe articulação política, existe sim, e existe um novo entendimento de como fazer essa articulação. Deixe-me exemplificar brevemente:
No livro, Diários da Presidência, FHC desenha como foi composto seu ministério, levando em consideração: partidos, poder estadual de cada legenda, magnitude estadual, caciques locais grupos políticos, ou seja, uma sofisticada engenharia de arranjo e acomodação de peças para compor ministérios e maioria na Câmara e Senado, ao preço de espaços políticos, cargos e poder.
O governo Bolsonaro está propondo uma articulação em cima de ideias, temas e pautas, não vinculando as aprovações à cargos, emendas e estatais. Ou seja, se antes você comprava deputados e senadores e a partir dai fazia seu cálculo de votos, hoje o governo precisa trabalhar no varejo e no convencimento.
Resumindo, está em curso uma construção política completamente nova e diferente de tudo que foi visto até agora.
Um governo que toca em uma frequência diferente, com ministros preparados, que não aceitam o jogo da imprensa, invertem as armadilhas e desfilam conhecimento e números. Uma visão de gestão na administração pública, com a digitalização do governo, criação de uma central de compras (somente na saúde, se estima 14 bilhões em economia), redução dos níveis hierárquicos e diminuições de cargos comissionados (na era petista chegou próximo a 120 mil).
Dentro do Plano dos 100 dias, questões como:
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Combate à fraudes no INSS com pagamento de bônus (meritocracia), podendo recuperar 10 bilhões.
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Isolamento de líderes das facções criminosas nos presídios.
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Reação imediata e eficiente no caso Brumadinho.
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Revisão da Lei Rouanet e contratos publicitários.
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Concessões e privatizações.
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13º do Bolsa Família.
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Decreto das armas.
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Projeto piloto de dessanilização no nordeste entre outras.
Citei apenas alguns exemplos, envolvendo diferentes áreas do governo, para comprovar que no mundo real, no mundo administrativo, o governo vai muito bem, obrigado.
Outra questão posta nestes 60 dias, é o resultado da pesquisa de avalição do governo, amplamente divulgada como ruim para o Planalto. Contudo, observe a diferença entre o mundo invertido e o mundo real nesta narrativa.
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Avaliação do governo, 38%.
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Avaliação do presidente 57%.
Como pode o presidente ser bem avaliado e o governo não? Uma coisa é indissociável da outra.
Simples. Como a extrema-imprensa bate diariamente, 24 horas por dia no governo, gera na opinião pública uma sensação de que o governo não alinhou, mas que o presidente possui capacidade para ajustar.
Dessa forma, se a população tivesse acesso aos dados que trago neste texto, tivesse sido informada sem viés, ao longos desses dois meses, certamente a avaliação estaria acima dos 60, 70%.
Infelizmente, conviveremos 4 anos entre dois mundos. O mundo invertido da extrema imprensa e o mundo real do governo e dos brasileiros.
José Henrique Westphalen.
Conheça o canal do cientista político José Henrique Westphalen no YouTube.
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