Artigo – do Diário do Comércio de São Paulo: “Lava Jato cerebral”, por Jorge Maranhão
Do Diário do Comércio de São Paulo: https://dcomercio.com.br/categoria/opiniao/lava-jato-cerebral
O site 342, originariamente criado para pedir a cassação de Temer no ano passado pela fina flor de nossos artistas e intelectuais militantes dos direitos humanos, passou a fazer campanhas de todo tipo e independente do interesse público.
Desde que contrárias a qualquer ato do governo, da demarcação de terras de reserva indígenas ou minerais, até as reformas da previdência ou trabalhista.
A última campanha se intitula “intervenção é farsa”, pois o próprio Temer teria se referido à intervenção como “uma jogada” segundo os depoentes do vídeo.
Mas a pergunta que se impõe é se, a despeito da farsa do eventual comentário infeliz, a intervenção militar não é uma política necessária diante do descalabro a que chegou a segurança pública no Rio, pelo desgoverno do Estado.
Intervenção, por sinal, apoiada pela maioria da população, segundo recentes pesquisas. Além do que, será que as Forças Armadas se prestariam a este papel de coadjuvantes da farsa?
Um dos depoimentos da campanha é da vereadora recentemente assassinada, bem como de seu companheiro Marcelo Freixo do PSOL, pré-candidato esquerdista nas próximas eleições, e engajados na doutrinação antimilitar.
Aliás, o site Antagonista fez um levantamento nesta semana dos eleitores da vereadora e concluiu que ela não foi eleita majoritariamente pelos favelados pretos e pobres que defende, sobretudo das zonas faveladas em que nasceu e cresceu, mas pelos eleitores mais abastados da zona sul da cidade.
De quem seria a farsa, afinal? Da campanha dos artistas globais e intelectuais da esquerda caviar ou das autoridades responsáveis pela intervenção?
Penso que a campanha em si é mais uma demonstração de oportunismo farsesco e burlesco de nosso esquerdismo apresentando argumentos típicos do barroquismo mental de nossas elites, que de nossas artes plásticas e de nossas letras, desde o século XVII, extrapolou o estilo e a visão de mundo barroca para decisivos campos da vida nacional.
Farsesco pela ausência do sentido moral da comédia clássica e burlesco pela mera situação ridícula e vergonhosa.
Desde a magistratura da bela retórica garantista tirada dos alfarrábios júris-idealistas, que apenas procrastina o dever de uma sentença efetiva, aos políticos que burlam a representação dos eleitores pela de seus próprios interesses corporativos.
Além dos próprios cidadãos, sobretudo das elites, que sempre confundem cidadania com direitos sociais e quase nunca com deveres cívicos.
Resultado: estamos aprisionados numa armadilha barroquista, e sua visão de mundo mais da aparência do que da essência, mais da ironia do que do rigor, mais da fantasia do que da realidade, onde quase nunca afloram o bom senso e a razoabilidade clássicas experimentadas na Renascença e no Iluminismo.
A primeira por que inexistíamos ao tempo do advento da Renascença, uma vez que fomos descobertos na vigência do Barroco. O segundo por que totalmente desconsiderado pelo romantismo de nossas elites fundadoras da pátria.
O barroquismo como resíduo inexpelível de nossas mentes, a estrutura mesma de nosso inconsciente coletivo, a parcial e torta perspectiva através da qual vemos o mundo, o repertório pelo qual pensamos a realidade do país e escolhemos agir sobre ela.
Sobretudo quando transpomos para os campos da moral, da cívica e da política as figuras máximas da retórica barroca: a hipérbole do ver e do relatar, a ironia no tratar e a farsa e a burla no contratar uns com os outros na realidade da vida social.
Estas últimas sobretudo, se são comédias que nos ensinam sobre os valores morais, a não acreditar ingenuamente nas boas faculdades e intenções humanas, a conhecida “moral da estória”, apresentando como verdadeiro o que é falso, e o falso como verdadeiro, transpostas para a vida política e social concretas, é um atraso ou completo desastre civilizatório.
E quando se eternizam no esquerdismo cultural das mentes como relativismo moral, é mais desastroso ainda, sinal de que o país perdeu a guerra para a revolução cultural marxista e anacrônica.
Quando a esquerda, ignorante do mofo barroquista cuja humidade lhe encharca a mente, tenta mudar a substância dos nomes com as contorções das adjetivações em excesso ou simplesmente distorcendo o real significado dos substantivos.
Como justiça, que vira “justiça social”, como vida que se distorce em “condições de vida”, ou liberdade que se retorce em libertinagem, ou sexo que se torce em gênero, propriedade que se exagera em ganância, trabalho que se generaliza em exploração, autoridade que se falseia em autoritarismo, patriotismo em nacionalismo, Estado em providência divina e direitos sociais se arvoram a franquias ilimitadas.
Se não, vejam a pérola do barroquismo da campanha: os psolistas argumentam que o Rio precisa mais da intervenção “dos lápis do que dos fuzis”! É de se perguntar o que fiofó tem a ver com os fundilhos das calças. O fuzil não está em oposição ao lápis.
O Brasil precisa de muita educação, sim, e de alta qualidade para tirar os jovens do circuito do crime institucionalizado, desde os que correm nos corruptos palácios de Brasília até os que grassam nos corrompidos presídios dos estados.
E precisa também, em momentos de crise, de intervenção das forças de segurança com apoio e presença das Forças Armadas, como prescreve a Constituição em casos de incontrolável desordem pública.
Utilizar-se do oportunismo de uma farsa para denunciar outra farsa, figuras de comparação de coisas de natureza diversa, não se trata apenas de retórica sofismática ou pura desonestidade intelectual, mas demonstração cabal da lavagem cerebral barroco-esquerdista de nossas elites “pensantes”.
Haja Lava Jato para dar conta de tanto anacronismo! De lavar a jato o cerebelo de tantos oportunistas e demagogos esquerdistas!
Jorge Maranhão, mestre em filosofia pela UFRJ, dirige o Instituto de Cultura de Cidadania A Voz do Cidadão