Precisamos decidir o capitalismo que queremos
Precisamos decidir o capitalismo que queremos
Para além da discussão que iniciamos terça-feira passada sobre as desigualdades deste nosso federalismo fiscal, onde poucos Estados produtores de riqueza acabam sustentando os demais, hoje vamos um pouco mais à frente.
Que tipo de capitalismo queremos? Democrático, orientado para a livre concorrência que beneficia os mercados e os consumidores, com agências reguladoras independentes e atuantes? Ou um capitalismo retrógrado, onde poucas cabeças coroadas recebem benesses e mais benesses feitas pelos mandatários do momento, e sempre com o dinheiro público, nunca dos próprios investidores e empreendedores?
Somente este ano tivemos dois bons exemplos que mostram a urgência desta discussão. Curiosamente os dois no setor de alimentos, um na distribuição e outro na produção.
No primeiro, quase tivemos a participação direta do BNDES, que desistiu após a opinião pública e a mídia ter questionado a relevância de sua participação na promoção de grandes players sem as necessárias garantias de benefícios para os consumidores e o mercado interno brasileiros.
No segundo, temos o Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o Cade, dando o aval para a formação de um grande grupo empresarial evitando o monopólio na produção de alimentos no país. Como admite o próprio José Antonio Fay, presidente da nova empresa criada, “o processo, foi muito bom para todos. É o tipo de acordo que todo mundo quer fazer” . E até brincou sobre a venda de parte das marcas e instalações “Estamos criando uma noiva para que ela possa casar. Ainda não sabemos com quem” . Além disso, Fay não deu garantia de que a entrada de um novo competidor no mercado vá se refletir em uma redução nos preços dos produtos da empresa. Se for assim, cabe aqui a pergunta: “o processo foi bom para quem?” .
Pois é chegada a hora dos cidadãos mais conscientes e atuantes iniciarem uma ampla discussão sobre o que de fato é importante para a sociedade. Mas, principalmente sobre o que fazer para valorizar e empoderar quem garante a livre concorrência e um capitalismo que leva em consideração os direitos difusos dos cidadãos e não apenas os ganhos de escala. Como o são a Federal Trade Commission, nos Estados Unidos e a Autorité de la Concurrence, na França.
Evidentemente interessa a todos que o Brasil seja um grande player internacional, mas que seja pelo caminho da livre concorrência e com instituições de Estado fortes e independentes da politicagem de ocasião.
Lembrem-se: somos cidadãos consumidores e pagadores de impostos, e não sócios de negócios privados.