A grande questão para o entendimento do que vem a ser cidadania, ou os próprios direitos do cidadão, é entender que, na verdade, não existe no mundo real da sociedade as dicotomias ou dilemas entre público e privado, ou mesmo entre consciência e prática.
Há uma perfeita correspondência entre a nova ordem jurídica do Código Civil francês, a partir da Revolução Francesa, e o novo plano urbano de Paris, por exemplo.
O desenvolvimento da calçada como espaço intermediário entre a rua pública e a propriedade privada nos dá uma dimensão rica da consciência de cidadania ou do próprio coletivo enquanto categoria intermediária entre público e privado.
Quanto mais consciência de direitos civis coletivos temos, mais devemos tomar conta, não apenas de nossas vidas e propriedades privadas, como sobretudo, dos bens coletivos como uma simples calçada ou rua pública.
Pois, segundo o sociólogo Marshall, que nos legou o conceito mais acabado e claro de cidadania, os direitos civis coletivos, conquistados no século XVIII, seguidos pelos direitos políticos, conquistados no século XIX, não só precedem, como devem se suceder cronologicamente na tomada de consciência do cidadão do século XX, quando, enfim e só então, se consolidam os direitos sociais.
Ou seja: políticos que prometem direitos sociais como pleno emprego, saúde e educação universais a cidadãos que não tem sequer consciência de que são verdadeiramente os senhores de seus mandatos eletivos, os fiscais dos fiscais do cumprimento da ordem jurídica, econômica e tributária, estão na verdade alienando a consciência política desses mesmos cidadãos.
Para difundir e cultivar sobretudo no âmbito da opinião pública e da mídia esta consciência e exercícios dos direitos civis coletivos é que surge a Voz do Cidadão.