O falso dilema do reajuste dos servidores
Esta semana a presidente Dilma anunciou o que chamou de “maior plano de investimentos em transportes da história do Brasil”. Mais de 130 bilhões de reais destinados à concessão de rodovias e ferrovias em todo o país. E outros investimentos já estão programados para setores como energia, aeroportos, portos e outros.
Isso acontece no mesmo momento em que o governo federal endurece a posição contra as reivindicações salariais de diversas categorias de servidores públicos. E sabem qual está sendo a justificativa para resistir aos aumentos? A falsa desculpa de ter que optar entre conceder reajustes ou investir na infraestrutura do país.
Na verdade, não é assim que a banda toca. O governo tem muitos gastos mal explicados e pouco transparentes que superam bastante toda a folha salarial do funcionalismo. Gastos que mostram como é mal investido o dinheiro dos cidadãos pagadores de impostos. Por exemplo, para capitalização de estatais, somente na Petrobras foram utilizados 70 bilhões ano passado. Segundo especialistas, o Brasil vai gastar somente este ano perto de 1 trilhão do Orçamento para pagar juros e amortizações de uma dívida pública que nunca foi devidamente auditada. Quando se sabe que auditorias independentes reduzem consideravelmente qualquer dívida. Só de sonegação de impostos temos um prejuízo anual de 560 bilhões de reais, segundo uma agência inglesa de monitoramento. O que significa o segundo maior índice de sonegação do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. E não é só isso: segundo a Fiesp perdemos perto de 100 bilhões todo ano com as mais variadas formas de corrupção. E ainda querem convencer de que o maior problema é o reajuste do funcionalismo público?
É preciso pensar direito. Se o plano anunciado pelo governo trata de privatizações, concessões e parcerias, são exatamente esses servidores públicos quem vãogerenciar, fiscalizar, auditar, controlar, policiar, regular, denunciar, julgar e zelar por esses contratos bilionários e em defesa dos cidadãos. Justamente os servidores das carreiras de Estado, como os magistrados, promotores, auditores fiscais, auditores de controle, reguladores, gestores públicos, policiais e outras categorias de servidores, concursados e compromissados mais com o bem comum do que com interesses político-partidários de ocasião
Segundo o noticiário, o custo do governo federal com os reajustes pedidos pelos três poderes ficaria em torno dos 50 bilhões de reais, um valor bem distante daquele perdido em corrupção, sonegação, capitalização de estatais, renúncias fiscais e juros da dívida não auditada, que podem chegar a 50% de todo o orçamento de quase 1 trilhão de reais..
É por isso que precisamos colocar em perspectiva esses reajustes. Como bem pergunta o sindicato dos servidores do Banco Central em artigo recente: estão “afirmando que as greves já afetam as obras do PAC. Quais? As interrompidas por desvios de recursos ou as embargadas (como a de Belo Monte) por conta do governo não cumprir as etapas exigidas pelos próprios institutos governamentais?”.
Pensando assim, 50 bilhões de reais não são um gasto. São um investimento num país mais digno, justo e cidadão.
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